Podemos dizer que, em geral, as dificuldades provêm de três setores, embora muitas vezes as dificuldades se alternem 1° – Dos homens mundanos; 2º- dos familiares carnais; e 3º- do próprio candidato.

1. Pedir conselho a muitas pessoas e deixar passar muito tempo

A tentação da demora. Muitos aconselham deixar passar um tempo para tomar a decisão da vocação, como se o mero fato do postergar e demorar do tempo fosse solucionar o problema. Afirma São João Bosco que “quem encontra desculpa uma vez para demorar em decidir a vocação, é quase certo, que nunca a concretizará porque sempre encontrará novas desculpas”.

São muitos os que querem defender este tremendo engano se desculpando falsamente com textos da Sagrada Escritura: alguns argumentam com a frase de São João que diz “não creiais em todo espírito, mas examinai aos espíritos se são de Deus” (I Jo 4,1), querendo mostrar que convém dilatar a reflexão até o infinito, pretendendo ter uma certeza metafísica da vocação. Dizem ainda que: “Satanás se disfarça de anjo de luz” (II Cor 11,14) e assim engana aos incautos com aparência de bem; por isso é mister demorar longo tempo.

É verdade que muitas vezes Satanás sugere “bens” com intenção de enganar, no entanto deve-se saber que o demônio somente pode enganar aos sentidos corporais, já que no centro da alma somente Deus penetra. O desejo autêntico e interior de consagrar-se a Deus somente provém do Céu.

2. Dos próprios familiares quando não o aceitam e põem obstáculos

Costumam causar muitos danos nas almas daqueles que desejam entrar na vida religiosa o deixar-se levar pelas tentações carnais dos próprios familiares que, geralmente, obedecem mais à sensibilidade própria e à dor que leva o apartar-se do filho ou da filha que quer consagrar-se, que a vontade de Deus para eles.

São sobretudo os pais os que primeiro começam a lamentar-se dizendo “me deixará sozinha, ou sozinho”; “não pode me deixar assim”; tentando influir na conduta de seus filhos. Argumento que geralmente não aplicariam se esse mesmo filho se casasse ou fosse morar longe por motivos de trabalho. Tais pais, de modo egoísta, possivelmente muitas vezes sem saber, no fundo não desejam o bem e a perfeição dos seus filhos, pois não deixam que imitem aos verdadeiros seguidores de Nosso Senhor que deixando tudo O seguiram (cf. Lc 5,11). Foi o mesmo Cristo quem aconselhou um jovem que queria dar sepultura a seus pais dizendo: “deixa que os mortos enterrem seus mortos, tu vem e me segue” (Mt 8,22). “Alguns pais – dizia Dom Bosco – preferem ver seus filhos condenar-se a seu lado antes que salvar-se longe deles”. Por isso, exclama São Bernardo: “Ó pai sem compaixão! Ó mãe cruel! Cujo consolo é a morte do filho; que preferem vê-los perecer com eles antes que reinar sem eles”.

3. Não achar-se digno da vocação

Diante dos mistérios excelsos, que celebram os sacerdotes, ninguém é digno de ser um sacerdote. A vocação é uma graça especialíssima de Deus, e, portanto, gratuita; se Ele a dá, dá também as disposições suficientes para poder exercer dignamente o ofício sacerdotal. Contudo, cada dia o sacerdote, o bispo e o Papa diz ao mostrar a Hóstia consagrada antes da Comunhão “Senhor, eu não sou digno”. Se por não ser digno se deixasse a vocação, não haveria um só sacerdote sobre a terra.

4. Achar que não tem as qualidades para ter vocação

Não são precisamente essas as qualidades necessárias para ter vocação. Basta o chamado de Deus. Nem mesmo Moisés tinha qualidades para falar com os judeus e, entretanto, levou adiante a obra da liberação de Israel de modo admirável. O bom religioso põe sua confiança em Deus, não em suas forças; se assim o fizer, fracassa. “Quem confia no Senhor é como o monte Sião: nunca se abala, está firme para sempre.” (Sl 125,1); “quem confiou no Senhor e foi desiludido?” (Eclo 2,10).

5. Achar que porque é pecador Deus não pode chamá-lo

Tremendo engano. Deus chama como quer, quando quer, onde quer e a quem quer; todo o imenso mar de nossos pecados são um nada ante uma ínfima gota da misericórdia de Deus.  Que penoso teria sido se Santo Agostinho se deixasse levar por estes pensamentos; entretanto, ele que foi um grande pecador chegou a ser Doutor da Igreja e um dos maiores teólogos de todos os tempos. Assim agiu Santa Maria Madalena, e hoje é uma das estrelas mais brilhantes do Reino dos Céus, e assim atuaram tantos Santos que agiram pensando mais na misericórdia de Deus que na miséria de seus pecados.

 6. Achar que porque existem padres e religiosos ruins, então não pode ter vocação

É muito grosseiro justificar-se nisto para não ser um santo sacerdote. É como quem diz que porque na Missa vem gente que é depravada em sua vida privada, então ele não vai à Missa. O grande exemplo, o grande imitável, é Jesus Cristo, aquele que disse sede perfeitos como Meu Pai celestial é perfeito (Mt 5,48), Aquele que é o mesmo ontem, hoje e sempre. Quem não pecou (I Jo 3,5), porque não houve engano em sua boca (I Pe 2,22), que não é depravado, nem progressista, nem cismático, nem possuiu qualquer vício que podemos hoje observar em alguns consagrados.

7. Achar que porque tem gostos e aptidões por outras coisas não pode ter vocação

O homem que ama de verdade não se importa em renunciar a seus próprios interesses para fazer a vontade da pessoa amada. O amor verdadeiro é o de benevolência, querer o bem para o outro. Deixar-se levar pelos gostos pessoais é perder de vista o fim da vida, é sacrificar os interesses eternos em prol dos temporais. É esquecer esse fim que se deve alcançar como o negócio mais precioso da vida: “de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? (Lc 9,25). Os interesses de Deus estão sobre os nossos. Ademais, é uma escusa vã, porque de fato como sacerdote ou religiosa se pode e se deve ensinar, reger orquestras, ocupar-se de obras assistenciais, etc.

 8. Achar que como leigo pode fazer igual ou maior bem que como consagrado

Pode ser que sim, isso é justamente o que se tem que discernir quem se proponha a eleição de estado e à possibilidade de que Deus o chame à vida religiosa. Porém, para que seja assim, deve haver razões de verdadeiro peso que o sustente. Geralmente, este pensamento é por um simples conformismo, para renunciar ao plano de santidade, ao plano do máximo, por um menos ambicioso. É a proposta própria do tíbio, que só interessa em salvar-se, porém sem aspirar a toda a santidade que pode chegar a ter.

Quem com este argumento só busque conformar-se, pense em todas as graças que desperdiça por não seguir o verdadeiro querer de Deus, e das que Ele é responsável. Porque não és nem frio nem quente, porque és tíbio, te vomitarei de minha boca (Ap 3,16), poderia chegar a escutar algum dia.

 9. Desculpar-se afirmando que se pode servir a Deus em qualquer lugar

Respondemos com Santo Afonso: “Sim, em todas as partes se pode servir a Deus o que não é chamado à vida religiosa, porém, isso não é o caso do que, sendo chamado à ela, quer permanecer no mundo; é muito difícil que este tenha uma boa vida e sirva a Deus”.

 10. Achar que porque namora não pode ter vocação

Também as tiveram alguns Santos sacerdotes e religiosas antes de entrar no Seminário ou no Covento, entretanto, e se Deus me chama para algo muito maior? Se Deus me tem destinado para outro estado, me destinou para dar-me graças que não me dará se eu não estiver no estado para o qual me chamou.

 11. Achar que tem que esperar e ficar retardando a resposta

Já respondemos com claridade a sutil tentação da demora do tempo.

12. Achar que tem que ter uma certeza ou segurança total com respeito a vocação

Este é mais um engano; há quem para ter a certeza da vocação esperam que lhes apareça um anjo ou que possam cair de um cavalo, a certeza que podemos ter de nossa vocação é moral, não física nem metafísica. Basta tendo razões suficientes para saber que neste estado de vida se vai dar maior glória a Deus e bem às almas.

13. Doer-se por ter de deixar tudo e ficar sem nada

A vocação religiosa é deixar tudo para obter tudo; é deixar as coisas deste mundo para aferrar-se ao Todo que é Deus.

14. Achar que a vocação é uma fuga ou evasão de algum problema

Longe de ser uma fuga, o autêntico chamado à vocação religiosa é uma opção, uma opção pelo amor, pela verdade, por dar-se todo a Àquele que tanto lhe devemos. Assim como ninguém foge para entrar na prisão, não se foge para abraçar-se à Cruz.​

 15. Imaginar que só pode realizar-se casado e não como consagrado

O diabo está acostumado a pôr falsos sonhos, imaginações, fantasias que são simples produto de nossa sensibilidade. O julgamento da vocação de minha vida deve ser racional, e não guiado por ilusões, ou probabilidades que jamais acontecerão na realidade. A vocação não é questão da imaginação.

16. Pensar que não tem vocação porque não a sente

Nem sempre, nem necessariamente, nem ordinariamente o chamado à vocação é sensível. Geralmente não é.

17. Não se consagrar a Deus pelo medo de depois abandonar a vocação ou de ser infiel

Maior vergonha seria apresentar-se no dia do julgamento sem ter feito diante de Deus o que ele queria de mim. Não há nenhuma vergonha em sair de um noviciado; ao contrário, em caso de que haja motivos autênticos para sair, essa alma é digna de louvor por sua integridade, porque só se deixa levar por motivos sobrenaturais; é um homem de princípios, que faz de sua vida um canto à vontade de Deus. Vergonha seria ver alguém sair de um prostíbulo.

18. Justificar-se dizendo que gostaria de ter esposa e ter filhos

É o mais lógico e o mais normal, seria de temer o contrário. Devemos compreender que só Deus é “o único Senhor que merece ser servido” (São Francisco de Borja), e “a quem servir é reinar”.